terça-feira, 22 de setembro de 2015

Há necessidade de um cânon?

Há necessidade de um cânon?
Nos dias atuais, estão levantando-se homens (hereges) que falam que os autores do novo testamento não tinham nenhuma intenção de escrever e canonizar um “novo testamento” argumentam eles que o NT (sua canonização) foi um processo dirigido por homens muito depois dos livros serem escritos, e os autores do NT não tiveram nenhuma ideia de cânon, ou seja, para eles a ideia do cânon não foi algo que precedeu (levou á) produção dos livros, como argumenta o teólogo liberal Walter Bauer em seu livro ortodoxy and heresy in earliest christianidty (ortodoxia e heresia no início do Cristianismo), trocando em miúdos, o que eles falam é que o cânon foi uma ideia dos concílios ou de pais da igreja para que doutrinas fossem aprovadas em “disputas” teológicas o exemplo de uma delas seria a divindade de Cristo.
Andreas kostenberger e Michael Kruger no seu livro “A Heresia de Ortodoxia” fazem uma severa crítica a esses homens que fazem tais afirmações, trazendo para nós a verdade a tona, eles levantam argumentos que, quando analisados, ficará evidente que a ideia de cânon foi um desdobramento natural e inevitável ocorrido nas raízes da história da redenção, ou seja, a ideia de cânon precedeu a quaisquer decisões formais da igreja.


O cânon e aliança
Uma peça importante que esteve ausente na maioria dos estudos sobre o cânon do NT é a compreensão do pano de fundo da aliança que abrange todo o novo testamento em si. A estrutura pré-estabelecida da aliança do AT está fundamentalmente envolvida no pano de fundo histórico da nova aliança.
Em termos bem simples uma aliança é um acordo ou contrato entre duas partes, e vemos em algumas ocasiões alianças entre homens sendo estabelecidas nas escrituras (como o caso de Davi e Jônatas e 1 Sam. 18:3), mas em toda a escritura vemos que a maior aliança é a de Deus com o homem (Gn 15.18; 17.2; Êx 34:28; Hb 8.6-13), nesse caso, o conceito de aliança está presente em todo momento da história da redenção uma aliança entre Deus e o seu povo (Jr 32.40).
A estrutura da aliança
O conceito de estrutura de aliança é fundamental para que possamos compreender o que ocorreu no AT, principalmente quando vemos o contexto da estrutura de aliança (tratado pactual) dos antigos reis do antigo oriente (principalmente dos hititas), em tais tratados o rei dominador discutia suas relações com o rei dominado sobre o qual ele governava, esses tratados tinham uma estrutura claramente definida:
1) preâmbulo: a primeira linha dos tratados hititas trazia o nome do rei suserano que estabelecia a aliança.
2) prólogo histórico: essa parte do tratado apresentava o histórico da relação do suserano e o vassalo, Hillers observa: o histórico apresenta um papel específico, tinha por objetivo fundamentar a relação em algo que fosse além da força bruta(ibidem p 31).
3) estipulações: essa parte tratava da relação entre os deveres os quais cada parte deveria cumprir dentre as quais o rei suserano deveria proteger o rei vassalo caso outros exércitos atacassem o rei vassalo.
4) sanções: (benção e maldições). Os tratados hititas também incluíam vários tipos de penalidades caso uma das partes desrespeitassem algum termo da aliança.
5) a preservação do texto escrito da aliança: o elemento final do tratado pactual dos hititas seria o ato de entregar uma cópia escrita do tratado a cada parte, que a colocavam num respectivo santuário, além disso eles também faziam leituras públicas desses documentos.
Quando olhamos para deuteronômio e o decálogo nós vemos que ela segue claramente a estrutura dos tratados da região do antigo oriente.
Temos um preâmbulo (“eu sou o Senhor teu Deus” Êx 20.2ª); um prólogo histórico (“que te tirei da terra do Egito” (Êx 20.2b); uma lista de estipulações ( Êx 20.3-7); uma lista de bênçãos e maldições (Êx 20.5-7, 11,12 Dt 28); e por fim as duas cópias da aliança que são colocadas no lugar santo de adoração (Êx 31.18 Dt 10.2). assim como o pacto do rei suserano com o vassalo Deus providenciou os mandamentos escritos (documentos da aliança) para que desse testemunho dos termos entre ele e o seu povo.
À luz de tal realidade histórica fica claro que o cânon é inerente ao conceito de aliança, se a antiga aliança era sombra das coisas que haveriam de vir (Hb 10.1) Deus providenciou um testemunho escrito, quanto mais a nova aliança, Deus não providenciaria? lembrando que no testemunho escrito havia uma cláusula de maldição para quem adulterasse e corrompesse o escrito, e isso se mostra tanto na antiga aliança como na nova aliança (Dt 4.2 e Ap 22.18,19). Isso leva-nos a crer que o conceito de cânon sempre esteve presente no meio do povo de Deus e não que foi uma invenção de concílios para combater hereges no quarto século.
Os apóstolos e o cânon
A ligação entre as atividades redentora de Deus e a concessão do cânon é estabelecida pelo fato de que Deus deu a igreja o ofício apostólico para guardar, preservar e transmitir essa mensagem da redenção, fazendo um paralelo com os profetas do antigo testamento que tinham autoridade de Deus para transmitir a mensagem e escriturar essas verdades, de modo que os substitutos dos profetas do AT são os apóstolos do NT pois eles receberam uma chamada específica de Cristo e receberam diretas revelações da parte de Deus, como os profetas do AT ( At 5.19-21; 10.9-16; 23.11; 27.23; 2Co 12.1), além disso a igreja está edificada sobre o fundamento dos profetas e dos apóstolos (Ef 2.20), e foram eles que escreveram o NT que consideravam o que eles escreviam era palavra de Deus, não somente eles mais os escritos que tinham o conteúdo apostólico ligado a eles, eles já tinham a ideia de que os seus escritos eram palavra de Deus juntamente com o AT, vejamos então algumas passagens:
“e tende por salvação a longanimidade de nosso senhor como também nosso amado irmão Paulo vos escreveu segundo a sabedoria que lhe foi dada, falando disto como as sua epístolas entre há quais há difíceis pontos de entender, que os indoutos e inconstantes torcem e igualmente as outras escrituras para a sua própria perdição” 2Pe 3.15-16
aqui Pedro fala que as cartas de Paulo são iguais as outras escrituras (antigo testamento)
“por que diz a escritura: não ligarás a boca do boi que debulha e digno é o obreiro do seu salário” 2Tm 5.18
A primeira firmação é fácil encontrar no AT que está em Dt 25.4, mas a segunda afirmação não existe em nenhuma passagem do AT mas somente em Lc 10.7, ou seja o apóstolo Paulo está falando que os escritos de Lucas são igualmente escritura assim como Deuteronômio
.
“para que vos lembreis das palavras que primeiramente foram ditas pelos santos profetas e do mandamento do Senhor e salvador, mediante aos vossos apóstolos” 2Pe 3.2
Pedro aqui coloca o testemunho dos apóstolos em pé de igualdade com o dos profetas do AT, e uma vez que a menção aos “santos profetas” é sem dúvida aos seus registros escritos, então parece que Pedro levanta a possibilidade de “mediante aos vossos apóstolos” pelo menos em parte também serem registros escritos, já que ele cita os escritos de Paulo no final do capítulo.
Então ao analisarmos esses versículos junto com vários outros, chegaremos à conclusão de que os apóstolos tinham a plena ideia de um cânon e que aquilo que eles escreviam era palavra de Deus.
A leitura pública das escrituras
Havia um costume na religião judaica de ler publicamente as escrituras nas sinagogas (Lc 4.17-20; At 13.15; 15.21) e o apóstolo Paulo coloca os seus escritos na mesma condição das “escrituras” do AT quando ele ordena que os crentes façam a leitura pública em 1Ts 4.27 “pelo Senhor vos conjuro que esta epístola seja lida a todos os santos irmãos”.
Essa mesma prática é constantemente recomendada pelos pais da igreja e os pais apostólicos.
“e, no dia chamado domingo, todos que vivem nas cidades ou nos campos se reúnem em um só lugar, e os relatos dos apóstolos ou os escritos dos profetas são lidos conforme o tempo permite “ Justino Mártir 1apol. 67.3.
Ou seja, com todas essas evidências que temos, não nos resta dúvidas que Deus providenciou o cânon sagrado da nova aliança, e que o conceito de cânon já existia desde a igreja primitiva.
Fonte dos argumentos:
Augustus Nicodemus, Apóstolos . Cap 1
Michael Kruger e Andreas Kostemberger, a Heresia da Ortodoxia. Cap 4

Carlos Alves

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